terça-feira, 16 de setembro de 2014

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"Ame o que você tem,
 antes que a vida lhe ensine
 a amar o que você tinha."

"A Avó"

A avó, que tem oitenta anos,
Está tão fraca e velhinha!..
Teve tantos desenganos!
Ficou branquinha, branquinha,
Com os desgostos humanos.

Hoje, na sua cadeira,
Repousa pálida e fria,
Depois de tanta canseira:
E cochila todo o dia,
E cochila a noite inteira.


Às vezes, porém, o bando
Dos netos invade a sala...
Entram rindo e papagueando:
Este briga, aquele fala,
Aquele dança, pulando...

A velha acorda sorrindo,
E a alegria a transfigura;
Seu rosto fica mais lindo,
Vendo tanta travessura,
E tanto barulho ouvindo.

Chama os netos adorados,
Beija-os, e, tremulamente,
Passa os dedos engelhados,
Lentamente, lentamente,
Por seus cabelos doirados.

Fica mais moça, e palpita,
E recupera a memória,
Quando um dos netinhos grita:
-Ó vovó! conte uma história!
Conte uma história bonita!-

Então, com frases pausadas,
Conta histórias de quimeras,
Em que há palácios de fadas,
E feiticeiras, e feras,
E princesas encantadas...

E os netinhos estremecem,
Os contos acompanhando,
E as travessuras esquecem,
Até que, a fronte inclinando,
Sobre o seu colo adormecem...

Olavo Bilac



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