quinta-feira, 4 de setembro de 2014

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"Sentar-se à Janela"

O jovem advogado,
 certo dia,
 deu-se conta de como as pequenas coisas são importantes na vida,
 e escreveu o seguinte:
Era criança quando, 
pela primeira vez, 
entrei em um avião.
 A ansiedade de voar era enorme.
Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito,
 acompanhar o voo desde o primeiro momento
 e sentir o avião correndo na pista cada vez mais rápido até a decolagem.
Ao olhar pela janela via,
 sem palavras, 
o avião rompendo as nuvens, 
chegando ao céu azul. 
Tudo era novidade e fantasia.
Cresci,
 me formei,
 e comecei a trabalhar. 
No meu trabalho, 
desde o início,
 voar era uma necessidade constante.
As reuniões em outras cidades 
e a correria me obrigavam,
 às vezes,
 a estar em dois lugares num mesmo dia.
No início pedia sempre poltronas ao lado da janela,
 e,
 ainda com olhos de menino, 
fitava as nuvens,
 curtia a viagem, 
e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião,
 pegar a bagagem, 
coisa e tal.
O tempo foi passando,
 a correria aumentando, 
e já não fazia questão de me sentar à janela,
 nem mesmo de ver as nuvens, 
o sol,
 as cidades abaixo, 
o mar 
ou qualquer paisagem que fosse.
Perdi o encanto. 
Pensava somente em chegar e sair,
 me acomodar rápido
 e sair rápido.
As poltronas do corredor agora eram exigência.
 Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém, 
sempre e sempre preocupado com a hora,
 com o compromisso, 
com tudo,
menos com a viagem, 
com a paisagem,
 comigo mesmo.
Por um desses maravilhosos "acasos" do destino,
 estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa,
 precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível.
O voo estava lotado
 e o único lugar disponível era uma janela, 
na última poltrona. 
Sem pensar concordei de imediato, 
peguei meu bilhete
 e fui para o embarque.
Embarquei no avião, 
me acomodei na poltrona indicada: 
a janela. 
Janela que há muito eu não via, 
ou melhor, 
pela qual já não me preocupava em olhar.
E,
 num rompante, 
assim que o avião decolou,
 lembrei-me da primeira vez que voara. 
Senti novamente
 e estranhamente aquela ansiedade, 
aquele frio na barriga. 
Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, 
tendo passado pela chuva, 
apareceu o céu.
Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. 
E também o sol, 
que brilhava como se tivesse acabado de nascer.
Naquele instante,
 em que voltei a ser criança,
 percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem 
em que desprezava aquela vista.
Pensei comigo mesmo:
 será que em relação às outras coisas da minha vida 
eu também não havia deixado de me sentar à janela,
 como,
 por exemplo,
 olhar pela janela das minhas amizades,
 do meu casamento, 
do meu trabalho
 e convívio pessoal?
Creio que aos poucos, 
e mesmo sem perceber,
 deixamos de olhar pela janela da nossa vida.
A vida também é uma viagem
 e se não nos sentarmos à janela,
 perdemos o que há de melhor: 
as paisagens, 
que são nossos amores, 
alegrias,
 tristezas, 
enfim,
 tudo o que nos mantém vivos.
Se viajarmos somente na poltrona do corredor,
 com pressa de chegar, 
sabe-se lá aonde,
 perderemos a oportunidade de apreciar as belezas
 que a viagem nos oferece.
Ademais,
 pode ser que ao descer do avião da vida
 já não encontremos ninguém a nossa espera.
Pense nisso!
Se você também está num ritmo acelerado, 
pedindo sempre poltronas do corredor, 
para embarcar e desembarcar rápido 
e "ganhar tempo", 
pare um pouco e reflita sobre aonde você quer chegar.
A aeronave da nossa existência voa célere
 e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante.
Não sabemos quanto tempo ainda nos resta.
 Por essa razão, 
vale a pena sentar próximo da janela
 para não perder nenhum detalhe.
Afinal,

"a vida,
 a felicidade
 e a paz
 são caminhos e não destinos."

de
http://rogeriabreves.blogspot.com.br


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