terça-feira, 1 de agosto de 2017

** "Luar de Verão"



"Luar de Verão"

O que vês, trovador?-Eu vejo a lua 
Que sem lavor a face ali passeia; 
No azul do firmamento inda é mais pálida 
Que em cinzas do fogão uma candeia.


O que vês, trovador?-No esguio tronco
Vejo erguer-se o chinó de uma nogueira. 
Além se entorna a luz sobre um rochedo 
Tão liso como um pau-de-cabeleira.


Nas praias lisas a maré enchente 
S'espraia cintilante d'ardentia 
Em vez de aromas as doiradas ondas 
Respiram efluviosa maresia!


O que vês, trovador? - No céu formoso 
Ao sopro dos favônios feiticeiros 
Eu vejo-e tremo de paixão ao vê-las- 
As nuvens a dormir, como carneiros.


E vejo além, na sombra do horizonte, 
Como viúva moça envolta em luto, 
Brilhando em nuvem negra estrela viva 
Como na treva a ponta de um charuto.


Teu romantismo bebo, ó minha lua, 
A teus raios divinos me abandono, 
Torno-me vaporoso, e só de ver-te 
Eu sinto os lábios meus se abrir de sono.



Nenhum comentário:

Postar um comentário