quarta-feira, 3 de abril de 2019

* "Coruja"



"Coruja"

          Texto enviado por Jackson Pereira

          - "A coruja, maltratada em nossa civilização por uma lamentável reputação de ladra, e ave que costumamos transformar no em­blema da feiura (aparentemente, contra a opinião de Rabelais), era no entanto a ave de Atena (Minerva). Ave noturna, relacio­nada com a Lua, a coruja não consegue suportar a luz do Sol e, nesse particular, opõe-se portanto à águia, que recebe essa mesma luz com os olhos abertos. Guénon observou que se podia ver nesse aspecto, assim como na relação com Atena-Minerva, o símbolo do conhecimento racional — percepção da luz (lunar) por reflexo — em oposição. ao conhecimento intuitivo — percepção direta da luz (solar). Talvez seja também por.esse motivo que a coruja é tradicionalmente atributo dos adivinhos: simboliza seu dom de clarivi­dência, mas através dos signos por eles interpretados. A coruja, ave de Atena, simboliza a reflexão que domina as trevas.Na mitologia grega, a coruja é represen­tada por Ascálafo, filho deAqueronte e da ninfa da obscuridade: foi ela quem viu Perséfone (Prosérpina) saboreando um fru­to do inferno (um bago de romã), e denun­ciou-a, privando-a assim de toda e qualquer esperança de um dia poder retornar defini­tivamente ao mundo da luz.Entre os astecas, ela é o animal simbó­lico do deus dos infernos*, juntamente com a aranha*.    Em muitos Códices, a coruja é representada como a guardiã da morada obscura da terra. Associada às forças ctonianas, ela é também um avatar da noite, da chuva, das tempestades. Esse simbolismo associa-a a um só tempo à morte e às for­ças do inconsciente luniterrestre, que co­mandam as águas, a vegetação e o cresci­mento em geral.No material funerário das tumbas da civi­lização pré-incaica Chimu (Peru), encontra-se frequentemente a representação de uma faca sacrifical em forma de meia-lua, enci­mada pela imagem de uma divindade me­tade humana metade animal, semelhando ave noturna, coruja ou mocho. Este sím­bolo, evidentemente ligado à ideia de mor­te ou de sacrifício, é ornamentado de cola­res de pérolas* e de conchas* marinhas, tem o peito pintado de vermelho, e a di­vindade assim representada está muitas ve­zes ladeada por dois cães*, cuja significa­ção de psicopompos já conhecemos. Esse mocho, ou essa coruja, aparece, muitas ve­zes, segurando uma faca sacrifical numa das mãos, e na outra, o recipiente destina­do a recolher o sangue da vítima.Ainda em nossos dias, a coruja é a divin­dade da morte e a guardiã dos cemitérios, para numerosas etnias indo-americanas. Entretanto, permanece como fato surpreendente que um vetor de símbolo tão universalmente tenebroso e associado às mais sinistras ideias tenha podido, em algu­mas línguas latinas, designar como adjetivo a mulher bonita (fr. chouette = bonito(a), être chouette, ser bonito, distinto, perfeito etc.), passando depois a designar tudo aqui­lo que é de bom augúrio."

CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. 20ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.


Nenhum comentário:

Postar um comentário