segunda-feira, 31 de julho de 2017
sexta-feira, 28 de julho de 2017
*" "A Catedral"
"A Catedral"
Entre brumas, ao longe, surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho,
Toda branca de sol.
E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a bênção de Jesus.
E o sino clama em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu tristonho,
Toda branca de luar.
E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.
E o sino geme em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
Alphonsus Guimaraens
** "CERIMÔNIA DE PASSAGEM"
"CERIMÔNIA DE PASSAGEM"
“a zebra feriu-se na pedra
a pedra produziu lume”
a rapariga provou o sangue
o sangue deu fruto
a mulher semeou o campo
o campo amadureceu o vinho
o homem bebeu o vinho
o vinho cresceu o canto
o velho começou o círculo
o círculo fechou o princípio
“a zebra feriu-se na pedra
a pedra produziu lume”
Ana Paula Tavares
** "Obras de Portinari"
"Obras de Portinari"
Em 1944, o pintor brasileiro Cândido Portinari demonstrou preocupação em representar a situação social do trabalhador brasileiro, tanto é que criou a “Série Retirantes”, uma denúncia social com influências expressionistas, composta por Criança Morta, Emigrantes, Retirantes e Enterro na Rede.
Na tela Criança Morta, uma gigantesca mãe encontra-se curvada sobre o filho morto que carrega. Essa colossal mãe, com suas pernas flexionadas e com o filho nos braços, que mais se parece com uma estátua, lembra a figura da Pietá do pintor italiano Michelangelo. Quatro personagens espalham-se em torno dessa mãe dolorosa.
A criança morta, com seu corpo despido e esquelético, o que intui que tenha morrido de fome, tem a cabeça caída para frente, enquanto o braço direito despenca-lhe do corpo em direção ao chão, como o de Jesus na Pietá e em outras composições da Renascença.
Todas as figuras ao redor da mãe e de seu filho são cadavéricas. À esquerda, o homem segura a esposa pelo ombro, também com o corpo curvado e com os cabelos a lhe tocar as costas, como se lhe quisesse repassar consolo. Uma mulher segura, com as duas mãos, a cabeça do menino morto. À direita, outra mulher segura a mão de uma criança, cujo rosto envelhecido parece o de um adulto.
Excetuando a mãe, de quem não é possível ver o rosto, e a criança segura pela mão, tanto o homem quanto as duas mulheres vertem lágrimas de pedras, simbolizando a crueza da seca e a dureza do sofrimento.
A paisagem é seca e cheia de pedregulhos. Não se vê uma única plantação. No chão, descansa uma cabaça, cujo objetivo era carregar água. O azul do céu é carregado, reforçando o amargura da cena. Haja sofrimento nesse grupo que nos parece tão palpável.
Ficha técnica
Ano: 1944
Dimensões: 180 x 190 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Acervo do MASP, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Ano: 1944
Dimensões: 180 x 190 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Acervo do MASP, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Fonte de pesquisa
Portinari/ Coleção Folha
Portinari/ Coleção Folha
de http://virusdaarte.net
** "Este inferno de amar"
"Este inferno de amar"
Este inferno de amar – como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida – e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear,
Quando – ai quando se há de apagar?
Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... – foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! Que, doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! Despertar?
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? Eu que fiz? – Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...
Almeida Garrett
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